Publicado em: 26/02/2016
Afinal, o que é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC? Quais as diferenças em relação a mania? O professor do curso de Psicologia do Centro Universitário de Araraquara – Uniara, Fábio de Carvalho Mastroianni, esclarece diversos pontos sobre o problema e alerta quanto à sua gravidade.
Muitos confundem e acreditam que mania e TOC são a mesma coisa. No entanto, o docente explica que as diferenças são significativas. “O TOC é um diagnóstico dentro dos quadros de transtornos de ansiedade que a antiga versão do DSM - IV e IV-R, um manual de diagnósticos da Associação de Psiquiatria Americana que abrevia a expressão Diagnostic Statistic Mental - utilizava para se referir a um conjunto de transtornos em que sintomas de ansiedade são proeminentes. Esses mesmos transtornos são encontrados na Classificação Internacional de Doenças - CID-10, da Organização Mundial de Saúde, dentro de quatro subcapítulos de um conjunto maior denominado ‘Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes’”, conta ele.
“A nova edição do manual americano - DSM-5 - separou os transtornos de ansiedade em três novos capítulos, aproximando-se da nomenclatura da CID-10, e incluiu outros que faziam parte dos Transtornos Somatoformes e Transtornos do Controle do Impulso com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Neste sentido, o capítulo que anteriormente continha apenas o TOC se expandiu, abrangendo os diagnósticos de Transtorno Dismórfico Corporal; Transtorno de Acumulação; Tricotilomania e Transtorno de escoriação, dado o fato que nesses transtornos também se observam alguns comportamentos repetitivos, mas no caso dos dois últimos, os comportamentos são focados no próprio corpo”, detalha.
Já a mania, embora possa ser acompanhada de sintomas ansiosos, é uma das formas de alteração do humor, de acordo com Mastroianni. “Por humor, compreende-se a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica, uma espécie de lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma ‘cor’ particular. Portanto, amplia ou reduz o impacto das experiências reais e, muitas vezes, modifica o seu sentido e a sua natureza”, explica.
Entre os exemplos, ele menciona o humor irritado (disfórico), depressivo e o maníaco ou elevado, entre outros. “Se o TOC se caracteriza por uma ansiedade oriunda de pensamentos que são intrusivos, repetitivos e, portanto chamados de obsessivos, levando o sujeito a desenvolver algumas compulsões, como maneira de afastar esses pensamentos, a mania ou humor maníaco se caracteriza por uma elevação da disposição afetiva que, embora possa parecer positiva, em nada tem de favorável, uma vez que leva o sujeito a perder o senso crítico, colocando o outro ou a si mesmo em situação de risco”, destaca.
“Vamos pensar em alguém que se depara com um pensamento ou ideia ruim do tipo ‘algo de ruim pode acontecer com o meu pai ou a minha mãe’. Uma resposta razoável seria tentar contatar o pai ou a mãe e verificar se eles realmente estão bem. Feito isso e verificado que ambos se encontram bem, é esperado que este tipo de ideia ou pensamento não volte a aparecer, pelo menos tão cedo. No caso do TOC, esses pensamentos se tornam repetitivos e intrusivos, não sendo possível ao sujeito afastá-los, a não ser com o uso de uma compulsão”, afirma Mastroianni.
Sobre os tipos de TOC, “percebe-se que o diagnóstico ou a crença na relação entre os pensamentos obsessivos e os atos compulsivos pode, em alguns casos assumir proporções delirantes, onde se torna impossível ao indivíduo perceber a falta de lógica em sua crença, bem como convencê-lo do contrário ou remover essa crença”. “Nesse caso, por ser delirante, o diagnóstico se aproxima dos Transtornos Psicóticos, em que se inclui a esquizofrenia e o transtorno delirante, podendo esse último diagnóstico ser o mais adequado ao invés de TOC. No entanto, é mais usual que os pacientes com TOC possuam crítica a respeito da disfuncionalidade de seu quadro. Além disso, os indivíduos com TOC preservam um adequado contato com a realidade, percebendo que as ideias e os pensamentos que por vezes lhe invadem são seus, ou seja, são ideias e pensamentos seus e não vozes ou pensamentos de outra pessoa que são introduzidos em sua mente. Essa característica diferencia bem o quadro de TOC da esquizofrenia”, esclarece.
Entre as consequências, o professor comenta que, além da possibilidade de assumir proporções delirantes, se não tratado com equipe multiprofissional, o quadro pode se tornar crônico, acarretando prejuízos profissionais, sociais e afetivos. “Além disso, usualmente acaba envolvendo os familiares desses sujeitos, os quais também devem ser alvo da intervenção, uma vez que podem adoecer com o paciente, devido aos intensos rituais e cuidados que o paciente passa a demandar. Dependendo do tipo ou tipos de compulsões, prejuízos clínicos, como o desenvolvimento de feridas, perda de cabelo e escoriações pelo corpo também podem demandar atenção”, ressalta.
Falar em prevenção é também bastante complicado. “Os estudos apontam que fatores genéticos e padrões familiares, como por exemplo a presença de pessoas com esse diagnóstico na família, aumentam as chances de a pessoa desenvolver esse quadro. No entanto, a palavra transtorno já aponta que um conjunto de fatores e aspectos estão relacionados à sua etiologia, entre eles: o biológico, o psicológico e o sociocultural. Além disso, pessoas com o mesmo diagnóstico podem apresentar curso e evolução distintos, a personalidade e a história de vida do sujeito, bem como o suporte familiar tendem a contribuir para o prognóstico. Nesse sentido, torna-se difícil pensar ou falar sobre prevenção”, observa.
Para o tratamento do TOC, “a associação de psicoterapia e farmacoterapia se mostram indispensáveis para o tratamento, devendo-se ponderar também a importância de se incluir a família no tratamento, dada a fragilidade que ela pode apresentar, bem como a importância dela no suporte e evolução do paciente”.
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