Publicado em: 30/08/2021
Acessibilidade e inclusão vão muito além do desenvolvimento de produtos para uma parcela específica da população, pois existe o conceito de desenho universal que, de acordo com o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Araraquara – Uniara, Milton Balestrini, “se preocupa com a universalidade do uso de ambientes, de serviços e de produtos no maior número de situações possível, sem a necessidade de adaptação ou de soluções especiais”.
“Esse conceito considera que todos os espaços e ambientes devem ser planejados na direção de universalizar o seu acesso e utilização, ou seja, procura produzir espaços, ambientes e objetos que possam ser utilizados pelo maior espectro de pessoas possível, como crianças, idosos, deficientes visuais e auditivos, e pessoas com deficiências motoras”, explica o professor.
Ele comenta que, dessa forma, “busca-se a independência e integração dos vários tipos de pessoas no exercício de sua cidadania, garantindo seu acesso à cidade e seus recursos, ou a um equipamento público ou coletivo”. “O desenho universal recomenda que os novos projetos de espaços públicos ou coletivos já sejam concebidos como acessíveis a todos os biótipos, evitando, na medida do possível, a necessidade de dois tipos de equipamentos, como também a necessidade da ajuda de terceiros para que pessoas fora do ‘biótipo padrão’ sejam capazes de acessá-los”, esclarece.
Como exemplo, Balestrini menciona uma maçaneta. “A maçaneta tipo bola exige que seu usuário esteja com a mão livre e demanda maior força da mão e do braço. Se utilizarmos uma maçaneta do tipo alavanca, isso permite que a porta seja aberta com o uso do cotovelo, ou mesmo com a mão fechada, demandando baixo esforço físico. Ou seja, nota-se que os recursos desenhados para deficientes físicos são bem recebidos também por pessoas sem deficiências, como também é o caso das rampas”, diz.
Especificamente em Araraquara, o acesso à entrada principal do Shopping Lupo é outro exemplo citado pelo docente. “Temos três dispositivos paralelos: uma rampa suave, uma escadaria e uma rampa íngreme para veículos. A escadaria é a menos utilizada pelos pedestres. Pesquisas também sugerem que os ambientes produzidos segundo conceitos do desenho universal são mais atrativos e mais vendáveis”, destaca.
Balestrini lembra que o que o deficiente físico mais deseja é a sua autonomia. “A história da humanidade já o tratou como ‘o diferente’ e já o excluiu e o estigmatizou por muitos séculos. O desenho universal se preocupa em incluir e permitir a independência do maior espectro possível dentro de um projeto, seja de um espaço, seja de um produto. Dentro da Uniara, já difundimos esses conceitos também. O evento da Semana de Arquitetura de 2019 foi dedicado a esse tema. Como resultado do trabalho do Conselho de Arquitetura e Urbanismo - CAU, o desenho universal se tornou matéria obrigatória em todos os currículos das faculdades de Arquitetura e Urbanismo no Brasil a partir de 2021, inclusive no nosso caso”, detalha.
A inclusão é “o que se busca hoje nas sociedades desenvolvidas e nos organismos multilaterais”. “Essa ação não é apenas humanitária, mas também se mostra, por meio de pesquisas sérias, que há benefícios para ambas as partes e para a sociedade como um todo. Por exemplo, ter na escola um coleguinha com síndrome de Down ou ter no trabalho um colega com paralisia cerebral deveria ser algo rotineiro entre nós. Aceitar o diferente nos une e nos fortalece, além de aumentar a produtividade tanto na escola como no trabalho. O preconceito preponderante no Brasil e em toda a América Latina deve ceder espaço à aceitação e inclusão do diferente. De algum modo, somos todos diferentes. Não existe o ‘ser humano padrão’. Esse conceito foi uma invenção falaciosa da Revolução Industrial. O universo é formado por diferenças”, declara o professor.
Princípios para o desenho universal
Balestrini finaliza citando sete princípios “que, se seguidos, devem levar a resultados acessíveis ao maior número de pessoas possível”:
- Uso equitativo: significa que o desenho universal não se dirige a um grupo específico, mas deve ser acessível de modo igualitário a grupos de diferentes capacidades. Por exemplo, o nivelamento entre calçada e via nas travessias de pedestres.
- Uso flexível: significa acomodar uma ampla variedade de preferências e habilidades individuais, adaptáveis a qualquer uso. Por exemplo, tesouras para ambas as mãos.
- Uso simples e intuitivo: significa de fácil entendimento, não importa a experiência, conhecimento ou habilidades linguísticas do usuário. Por exemplo, uma esteira rolante ou um manual de instruções com desenhos.
- Informações de fácil percepção: significa que a informação é compreendida, não importa quais sejam as condições ambientais ou a capacidade sensorial do indivíduo. Por exemplo, as instruções e informações de um aeroporto transmitidas visualmente, por meio de som e por meios táteis.
- Tolerância ao erro: significa reduzir os riscos e implicações em caso de ações involuntárias e acidentais. Por exemplo, uma chave que produz o mesmo resultado em ambas as posições.
- Baixo esforço físico: significa oferecer uso confortável com baixo esforço e fadiga. Por exemplo, a já citada maçaneta de alavanca e torneiras do tipo monocomando.
- Dimensionamento e espaço para aproximação e uso: significa prover, por meio do projeto, o espaço necessário para a aproximação, manipulação e uso do ambiente e de seus dispositivos, seja qual for o tamanho do corpo do usuário, sua postura ou condições de mobilidade. Por exemplo, caixas eletrônicos e cestos de lixo em locais públicos.
Informações sobre o curso de Arquitetura e Urbanismo da Uniara podem ser obtidas no endereço www.uniara.com.br ou pelo telefone 0800 55 65 88.
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